segunda-feira, 14 de março de 2011

RESPOSTA AO CD "VOZ DA VERDADE” (Parte I)

Por Natanael Rinaldi

Fomos presenteados com um exemplar do CD “Voz da verdade” com três lindas músicas intituladas: “Imagem de Deus”, “Tu me amas” e “Deus conosco”. O CD, gravado pelo conjunto que leva o mesmo nome, está sendo distribuído gratuitamente em todo o Brasil simplesmente porque o referido grupo tem sido refutado nos meios pentecostais por causa da doutrina unicista que defende. Assim, acharam por bem contestar a doutrina da Trindade adotada pela maioria das igrejas evangélicas. Paralelamente às músicas selecionadas, o conjunto “Voz da verdade” sustenta a doutrina unicista de Deus abordando os seguintes temas: “O mistério de Deus: Cristo”, “O que Deus diz de si mesmo?”, “Quem é Jesus?” e “O batismo nas águas”.

O que diz o pregador
Quem se apresenta como defensor das doutrinas características do unicismo é Carlos Alberto Moisés. Como mesmo declara, ele pertence  ao ministério “Voz da verdade” e esclarece ainda que é guitarrista, cantor e compositor do grupo em questão. Sua esposa, Liliane, também cantora do grupo, o auxilia nessa defesa.

Análise do discurso
O referido CD inicia sua mensagem chamando a atenção dos ouvintes ao exclamar: “Quem crê na Bíblia Sagrada? Esta é a pergunta para você que nos está ouvindo. A Bíblia Sagrada, um livro de 66 livros, de Gênesis a Apocalipse, fala de uma única pessoa: Jesus Cristo”. E prossegue: “Eu quero dizer que acredito na Bíblia Sagrada, e ela é o único livro e regra de fé do nosso ministério” (grifo nosso).

Ora, afirmar que a Bíblia é a sua norma de conduta não quer dizer que os ensinos que esse pregador transmite e pratica estão baseados nela. As testemunhas de Jeová crêem na Bíblia, os adventistas também, mas seguem outras fontes para guiar suas vidas. Que a Bíblia fala de uma pessoa central, pois ela é cristocêntrica, não há dúvida. Que há um só Deus e que o primeiro mandamento proíbe a existência de outros deuses, nenhum cristão ortodoxo nega isso. Agora, dizer que há uma só pessoa de Gênesis ao Apocalipse, isso não é bíblico. É heresia!


Que outra maneira haveria de explicar o emprego dessa palavra senão para indicar a pluralidade de pessoas neste único Deus? É importante ainda saber que existe outra palavra em hebraico para que possamos nos referir a Deus de modo singular: Eloah.  O uso da palavra Elohim, com referência a Deus, é uma evidência da doutrina da Trindade, e essa questão se torna ainda mais acentuada quando a concordância dos verbos e os pronomes ocorre no plural. Exemplos:

Exame do livro de Gênesis
Em Gênesis encontramos a palavra Elohim no primeiro versículo da  Bíblia. A tradução desse nome, escrito em hebraico, é Deus, aparece 2.500 vezes nas Escrituras Hebraicas (Velho Testamento) e deixa implícito uma pluralidade de pessoas. Se traduzido literalmente, esse versículo ficaria assim: “No princípio, criou deuses os céus e terra”. Entretanto, os judeus sempre foram monoteístas, ou seja, sempre creram na unidade absoluta de Deus. Como explicar então esse nome? Para vários rabinos, seria plural de majestade. Todavia, para os cristãos, desde a fundação da igreja, esse nome evidencia pluralidade de pessoas e unidade de natureza dessas pessoas.

1. Gênesis 1.26: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (grifo nosso).
Nota: O uso do verbo "façamos" e do pronome possessivo "nossa" é revelador do sentido de que Elohim  serve para indicar a pluralidade de pessoas.

2. Gênesis 3.22:  "Então, disse o Senhor: Eis que o homem é como um de nós..." (grifo nosso).
Nota: O uso pronominal da primeira pessoa do plural do caso reto "nós" indica pluralidade de pessoas.

3. Gênesis 11.7:  "Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua...” (grifo nosso).
Nota: Os verbos "desçamos" e "confundamos" na primeira pessoa do plural indicam pluralidade de pessoas.

Exame do livro de Apocalipse

Assim como Jesus não é a única pessoa da Trindade tratada em Gênesis, da mesma forma em Apocalipse, o último livro da Bíblia, temos o Senhor Jesus de modo proeminente, mas isso não significa que Ele seja a única pessoa de que trata o livro. Encontramos Cristo, junto ao Pai,  recebendo adoração de todos os anjos do céu: “E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. Então ouvi a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono (Deus, o Pai), e ao Cordeiro (Jesus Cristo, o Filho), sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Ap 5.11-13 – grifo nosso).

Podemos, ainda, citar uma referência à pessoa do Espírito Santo: “E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus” (Ap 4.5 - grifo nosso).

Devemos observar que a expressão em destaque está-se referindo à plenitude de operações do Espírito Santo em conexão com as palavras do profeta Isaías: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11.2).

Assim, fica evidente de que não há base bíblica para sustentar a declaração do senhor Carlos Moisés de que a Bíblia “de Gênesis a Apocalipse está falando de uma única pessoa: Jesus Cristo...”.  E, considerando a declaração de Gênesis 1.2, que diz: “...e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, concluímos que temos sim as três pessoas da Trindade, muito embora o senhor Carlos Moisés discorde.

Dessa forma, as referências bíblicas citadas, como, por exemplo, Is 1.18, 40.13, 42.8, 43.11-12, 44.6, 25, 45.5-6, 22 e 45.23 não contradizem o nosso modo de interpretar a Bíblia. Somos monoteístas. Entendemos, porém, que esse Deus único revelou-se em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não somos triteístas, como é alegado no referido CD.

Pode-se crer na Trindade?
Utilizando-se do mesmo raciocínio das testemunhas de Jeová, o senhor Carlos Moíses diz: “Onde estaria a palavra trindade aí? Não existe na Bíblia Sagrada, porque a Bíblia diz que Deus é um...”. E continua em seu discurso: “Ele diz eu sou. É por isso que não existe uma trindade. Faço uma pergunta: onde está a trindade, três pessoas em uma só?... Quem que está falando da trindade... Quero dizer para você que não existe essa palavra na Bíblia Sagrada. Quero dizer que não há trindade na Bíblia, não há três deuses, não há três pessoas em uma só... Vou mostrar alguns erros da trindade biblicamente. Nós cremos na manifestação tripla de um mesmo Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, mas não de três pessoas, nem de três deuses, mas de um Deus só que se manifestou nessas três formas” (o grifo é nosso).

Negar a unidade composta de Deus simplesmente porque a palavra “trindade” não se encontra na Bíblia não é nenhum método científico de pesquisa. Pensemos um pouco: “Quem existiu primeiro, as estrelas ou a astronomia, as plantas ou a botânica, a vida ou a biologia, Deus ou a  teologia?”. Todavia, os homens, em sua ignorância, conceberam idéias supersticiosas acerca das estrelas. O resultado foi a pseudociência da astrologia. Conceberam idéias falsas sobre as plantas, atribuindo-lhes poderes que não possuíam. Então, o que aconteceu? Passou a existir a feitiçaria. O ápice desses erros foi a cegueira espiritual dos homens que os levou a formar conceitos errados sobre Deus e, por conta disso, veio o paganismo.

Será que o argumento do senhor Carlos Moisés pode provar que a Trindade não é uma doutrina bíblica? Claro que não. Embora a palavra “trindade” não apareça na Bíblia, o ensino dessa doutrina, porém, que comprova a existência de três pessoas distintas em uma só divindade, está implícito na Santa Escritura.

A doutrina da Trindade não é antibíblica e deve ser aceita. Nos tempos antigos, esse ensino enfrentou severos ataques, o que forçou a igreja a definir com exatidão sua fé na Trindade. Esse erro que ressuscita hoje era conhecido como sabelianismo, doutrina esta que ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram apenas aspectos ou manifestações de Deus. A Bíblia nos ensina que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus, e isso não é triteísmo (triunidade) nem unicismo (mesma pessoa), mas santíssima Trindade. Rejeitar essa verdade é aceitar o politeísmo.

O senhor Moisés Carlos cita ainda a palavra “Bíblia” e declara que nela não existe a doutrina da Trindade. Uma pergunta: “Onde se encontra nas Escrituras a palavra Bíblia?”. Em nenhum lugar. Então, como ele afirma crer na Bíblia? Seguindo o seu raciocínio, vejamos a sua alegação: “Nós cremos na manifestação de pessoas... de Gênesis a Apocalipse, está falando de uma única pessoa: Jesus Cristo”.

Outra pergunta: “Onde aparece na Bíblia a expressão ‘manifestação tripla’”?. O senhor Carlos Moisés declara ainda que Deus se manifestou de “três formas”. Mas onde aparece na Bíblia a expressão em que Deus declara haver se manifestado de “três formas”? E, por fim, onde lemos na Bíblia: “Nós cremos na manifestação tripla de um mesmo Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, mas não de três pessoas, nem de três deuses”?.

Na verdade, ele crê  “na manifestação tripla de um mesmo Deus como Pai, Filho e Espírito Santo” e que as palavras “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” se referem, não a três pessoas, mas, sim, a três “manifestações” de uma só Pessoa, cujo nome é Jesus.  Assim, Jesus seria o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Aqui convém observar um solene aviso bíblico, exposto pelo apóstolo João: “Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o Filho” (1Jo 2.22).

Qual é a origem desse ensino herético? Certamente não se originou com o ministério “Voz da verdade”, que integra um grupo de igrejas tidas como pentecostais unicistas ou modalistas, junto com a igreja Tabernáculo da Fé, de Willian Marrion Banham, e a igreja Local, de Witness Lee. 

Sabélio, um caso bem antigo
Sabélio é o mais famoso representante do modalismo. Ele viveu em 230 d.C e  foi um ardente defensor dessa doutrina, além de refiná-la. Para ele, Deus assumira três fases ou manifestações, mas não três pessoas. A doutrina sabeliana acabou desenvolvendo o patripassionismo, ensino que asseverava que os sofrimentos de Deus Filho recaía necessariamente sobre o Deus Pai. Sabélio usava a palavra “pessoa” para cada Pessoa da divindade. Mas, para ele, pessoa tinha o sentido de máscara ou de manifestações diferentes de uma mesma Pessoa divina. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são nomes de três estágios ou fases diferentes. Deus era o Pai na criação e na promulgação da lei, Filho na encarnação e Espírito Santo na regeneração.

História do unicismo moderno
Essa doutrina surgiu em uma reunião pentecostal das igrejas Assembléias de Deus realizada em abril de 1913, em Arroyo Seco, nos arredores de Los Angeles, Califórnia, em uma cerimônia de batismo. O preletor, R.E. McAlister, disse que os apóstolos batizavam em nome do Senhor Jesus, e não em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ao ouvirem isso, as pessoas ficaram atônitas.

McAlister foi notificado de que seu ensino possuía elementos heréticos. Então, tentou esclarecer sua prédica, mas seu ensino já havia produzido efeito. Um dos ouvintes era John Sheppe que, após aquela mensagem, passou uma noite em oração, refletindo sobre a mensagem de McAlister. Depois disso, concluiu que Deus havia revelado o batismo verdadeiro: somente em nome de Jesus. O australiano Franck J. Ewart também  adotou essa doutrina e, em 15 de abril de 1914, levantou uma tenda em Belvedere, ainda nos arredores de Los Angeles, onde passou a pregar sobre a fórmula batismal de Atos 2.38. Comparando a passagem de Atos 2.38 com Mateus 28.19, ele chegou à conclusão de que o nome de Deus seria o nome Jesus.

Um expoente dessa doutrina
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, o cantor e compositor do conjunto “Voz da verdade” afirma: “Quem é Jesus? Eis a questão. A Bíblia diz: no princípio era o verbo, ele estava com Deus, e o verbo era Deus. O verbo é Jesus. Ele era e é! A Bíblia diz: o verbo se fez carne e habitou entre nós, então Deus se fez carne e habitou entre nós...”.

A Bíblia não declara que Deus (o Pai) se fez carne. Diz que “o Verbo era Deus” (Jo 1.1) e: “o Verbo (não o Pai) se fez carne, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de Deus” (v. 14).

Para esclarecer melhor a distinção de pessoas na divindade, lemos: “Ele (o Filho) estava com Deus (o Pai)”. O versículo 14 indica: “E o Verbo (não o Pai) se fez carne, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito (monogenes – único da espécie) do Pai, cheio de graça e de verdade”. Corroborando com essa posição, o mesmo escritor declara, em 1 João 4.2: “Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”.

O texto é específico ao falar que Jesus Cristo foi que veio em carne. Um dos textos bíblicos que declaram que o Filho (Jesus) foi enviado por Deus, o Pai, é Gálatas 4.4:  “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.

Jesus, o Filho, foi enviado. Deus, o Pai, foi quem enviou. Aqui temos duas Pessoas distintas.  


Continua...
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