segunda-feira, 28 de março de 2011

A TEOLOGIA LIBERAL E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A FÉ BÍBLICA (Parte II)

Raízes
O liberalismo teológico começou a florescer de forma sistematizada devido a influencia do racionalismo de Descartes e Spinoza no século XVII e XVIII que redundou no iluminismo.
4 O liberalismo opunha-se ao racionalismo extremado do iluminismo.

Na verdade, quando a igreja começa a flertar com o liberalismo e se render aos seus interesses, ela perde a sua autoridade e deixa de ser embaixadora de Deus. A história tem provado que onde o liberalismo teológico chega a igreja morre. Esse é um aviso solene que deve estar sempre trombeteando em nossos ouvidos.

A baixa crítica
Conforme Gleason L. Archer Jr, “a ‘baixa crítica’ ou crítica textual se preocupa na tarefa de restaurar o texto original na base das cópias imperfeitas que chegaram até nós. Procura selecionar as evidências oferecidas pelas variações, ou leituras diferentes, quando há uma falta de acordo entre os manuscritos sobreviventes, e pela aplicação dum método científico chegar àquilo que era mais provavelmente a expressão exata empregada pelo autor original”.
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A alta crítica
J.G. Eichhorn, um racionalista germânico dos fins do século 18, foi o primeiro a aplicar o termo “alta crítica” ao estudo da Bíblia. Devido a isto ele tem sido chamado de “o pai da crítica do Antigo Testamento”. Segundo R.N Champlin, “a ‘alta crítica’ aponta para o exame crítico da Bíblia, envolvendo qualquer coisa que vá além do próprio texto bíblico, isto é, questões que digam respeito à autoria, à data, à forma de composição, à integridade, à proveniência, às idéias envolvidas, às doutrinas ensinadas, etc. A alta crítica pode ser positiva ou negativa em sua abordagem, ou pode misturar ambos os pontos de vista”.
6 Mas o que temos visto na prática é que esta forma de crítica tem negado as doutrinas centrais da fé cristã, em nome da ciência, da modernidade e da razão. O que fica evidente é que alguns críticos partem com o intuito de desacreditar a Bíblia, devido a alguns pressupostos naturalistas, chegando ao cúmulo de dizer que a Igreja inventou a Jesus.

Conforme Norman Geisler “a alta crítica pode ser dividida em (destrutiva) e positiva (construtiva). A crítica negativa nega a autenticidade de grande parte do registro bíblico. Essa abordagem em geral emprega uma pressuposição anti-sobrenatural”.
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Métodos aplicados a qualquer tipo de literatura passaram a serem aplicados à Bíblia, juntamente com grandes doses de ceticismo, no que diz respeito à validade histórica e à integridade de muitos de seus livros, juntamente com invenções de entusiastas que tinham pouca base nos fatos históricos. Assim, onde vemos nas narrativas da Bíblia fatos sobrenaturais são conferidas por esta teologia interpretações naturais, retirando assim da Palavra de Deus todas as intervenções miraculosas. Claramente nos é impróprio ou mesmo blasfematório colocar-se como juiz sobre a Bíblia.

Penosamente a “alta crítica” tem empregado uma metodologia faltosa, caindo em alguns pressupostos questionáveis. Devido a seus resultados ela ultimamente vem sendo descrita como “alta crítica destrutiva”. Para melhor compreensão veja o quadro comparativo
8 a seguir:



Parâmetros
Crítica positiva
(construtiva)
Crítica negativa
(destrutiva)
Base
Sobrenaturalista
Naturalista
Regra
O texto é “inocente até que prove ser culpado”
O texto é “culpado até que prove ser inocente”
Resultado
A Bíblia é completamente verdadeira
A Bíblia é parcialmente verdadeira
Autoridade final
Palavra de Deus
Mente do homem
Papel da razão
Descobrir a verdade (racionalidade)
Determinar a verdade (racionalismo)




C.S Lewis, sem dúvida o apologista cristão mais influente do século XX, em seu artigo “A teologia moderna e a crítica da Bíblia” tece alguns comentários que transcrevemos a seguir: “Em primeiro lugar, o que quer que esses homens possam ser como críticos da Bíblia, desconfio deles como críticos9 [...] Se tal homem chega e diz que alguma coisa, em um dos evangelhos, é lendária ou romântica, então quero saber quantas lendas e romances ele já leu, o quanto está desenvolvido o seu gosto literário para poder detectar lendas e romances, e não quantos anos ele já passou estudando aquele evangelho10 [...] os críticos falam apenas como homens; homens obviamente influenciados pelo espírito da época em que cresceram, espírito esse talvez insuficientemente crítico quanto às suas próprias conclusões11 [...] Os firmes resultados da erudição moderna, na sua tentativa de descobrir por quais motivos algum livro antigo foi escrito, segundo podemos facilmente concluir, só são “firmes” porque as pessoas que sabiam dos fatos já faleceram, e não podem desdizer o que os críticos asseguram com tanta autoconfiança”.12

Prove e veja
Na Universidade de Chicago, Divinity School, em cada ano eles têm o que chamam de “Dia Batista”. Nesse dia cada um deve trazer um prato de comida e ocorre um piquenique no gramado. Neste dia a escola sempre convida uma das grandes mentes da literatura no meio educacional teológico para palestrar sobre algum assunto relacionado ao ambiente acadêmico.

Num determinado ano eles convidaram Paul Tillich
13 e ele discursou durante duas horas e meia no intuito de provar que a ressurreição de Jesus era falsa. Questionou estudiosos e livros e concluiu que, a partir do momento que não haviam provas históricas da ressurreição, a tradição religiosa da igreja caía por terra, porque estava baseada num relacionamento com um Jesus que, de fato, segundo ele, nunca havia ressurgido literalmente dos mortos.

Quando concluiu sua teoria, Tillich perguntou a platéia se havia alguma pergunta, algum questionamento. Depois de uns trinta segundos, um senhor negro de cabelos brancos se levantou no fundo do auditório: “Dr Tillich, eu tenho uma pergunta, ele disse, enquanto todos os olhos se voltavam para ele. Colocou a mão na sua sacola, pegou uma maçã e começou a comer... Dr Tillich... crunch, munch... minha pergunta é muito simples... crunch, munch... Eu nunca li tantos livros como o senhor leu...crunch, munch... e também não posso recitar as Escrituras no original grego... crunch, munch... Não sei nada sobre Niebuhr e Heidegger... crunch, munch... [e ele acabou de comer a maçã] Mas tudo o que eu gostaria de saber é: Essa maçã que eu acabei de comer... estava doce ou azeda?.

Tillich parou por um momento e respondeu com todo o estilo de um estudioso: “Eu não tenho possibilidades de responder essa questão, pois não provei a sua maçã”.

O senhor de cabelos brancos jogou o que restou da maçã dentro do saco de papel, olhou para o Dr. Tillich e disse calmamente: “O senhor também nunca provou do meu Jesus, e como ousa a afirmar o que está dizendo?”. Nesse momento mais de 1000 estudantes que estavam assistindo o evento não puderam se conter. O auditório se ergueu em aplausos. Dr. Tillich agradeceu a platéia e rapidamente deixou o palco”.

Essa a diferença! É fundamental considerar que tudo o que engloba a fé genuinamente cristã está amparado em um relacionamento experimental (prático) com Deus. Sem esse pré-requisito ninguém pode seriamente afirmar ser um cristão. Seria muito bom se os críticos se atrevessem a experimentar este relacionamento antes de tecerem suas conjeturas. Se assim fosse certamente se lhes abririam um novo horizonte para suas proposições e quem sabe entenderiam que o sobrenatural não é uma brecha da lei natural, mas, sim, uma revelação da lei espiritual.

Notas de referência:

1
2 Adoração à Bíblia.
3 Segundo a comparação clássica entre Deus e o fabricante de um relógio, Deus, no princípio, deu corda ao relógio do mundo de uma vez para sempre, de modo que ele agora continua com a história mundial sem a necessidade de envolvimento da parte de Deus.
4 O Iluminismo enfatizava a razão e independência e promovia uma desconfiança acentuada da autoridade. A verdade deveria ser obtida por meio da razão, observação e experiência. O movimento foi dominado pelo anti-sobrenaturalismo, e o pluralismo religioso.

5 ARCHER, Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento? Edições Vida Nova, p.54.
6 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol 1. Candeia, p. 122.
7 GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. Editora Vida, p.113.
8 Ibid. p. 116.
9 MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Vl 2. Editora Candeia, p.522.
10 Ibid.p.526.
11 Ibid. p.526.
12 Ibid. pg.528.
13 Paul Tillich nasceu em 20 de agosto de 1886 em Starzeddel na Prússia Oriental, perto de Guben na Prússia. Foi um teólogo-filósofo e representante do existencialismo religioso.
O fundamentalismo foi um movimento surgido nos Estados Unidos durante e imediatamente após a 1ª Guerra Mundial, a fim de reafirmar o cristianismo protestante ortodoxo e defendê-lo contra os desafios da teologia liberal, da alta crítica alemã, do darwinismo, e de outros pensamentos considerados danosos para o cristianismo.
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