domingo, 27 de novembro de 2011

A MÚSICA CRISTÃ EVANGÉLICA

Por Gilson Barbosa

Caro leitor, você sabe o que é e o que significa o Triunfalismo, no movimento evangélico contemporâneo?

Ele pode ser explicado como um modo de pensar que vê o cristão como infalível, indestrutível, um “super crente”, imune dos acontecimentos que acometem a humanidade; é também um dos principais ramos da Teologia da Prosperidade ou “Palavra da Fé”.


Entendo ser importante comentar sobre os triunfalismo na esfera musical, tendo em vista que a música cristã tem sido influenciada por esse “espírito” moderno. É necessário atentarmos ao modo de como deve ser a música cristã em nossos cultos, especialmente nas liturgias. Ela é um dos elementos do culto – os outros são: orações, leitura e exposição da Palavra de Deus, contribuições financeiras para manutenção da obra de Deus (leia-se igreja local). A expressão musical tem por objetivo principal o louvor à Deus. Nesse sentido as expressões cantar ou louvar tem o mesmo sentido, senão, teríamos de admitir que, quem canta não louva (não adora a Deus) e quem louva (a verdadeira adoração) não canta. Não precisamos enfeitar o pavão e exagerarmos nos clichês. 


Pelo menos em três ocasiões o apóstolo Paulo faz menção de hinos e salmos na liturgia cristã (Ef 5.19; Cl 3.16; I Co 14.26 AC). Sempre foram constantes os hinos de louvor entre o povo de Deus, tanto do Antigo Testamento (Israel) quanto do Novo (Igreja Primitiva). Por brevidade limitarei menções à música cristã apenas ao período neotestamentário.


Jesus, como estava inserido dentro da cultura judaica e sendo um judeu de nascimento, cantava hinos e salmos. A Bíblia diz que após ter celebrado a páscoa (Ceia) o Senhor Jesus cantou um hino com seus discípulos e saíram para o monte das Oliveiras (Mt 26.30). Segundo um historiador (SCROGGIE) era costume cantar uma parte dos Salmos 113 a 118 do Hallel Egípcio, por ocasião da comemoração da páscoa (REVISTA OBREIRO, nº 12, p.90). Os versículos 22,23 do Salmo 118 foram citados e aplicados ao Senhor Jesus, por ele próprio (Mc 12.10,11; Mt 21.42; Lc 20.17).


O escritor Lucas registra quatro cânticos, ao estilo dos Salmos, e são conhecidos como: Magnificat (1.46-55), Benedictus (1.67-79), Gloria in excelsis Deo (2.13,14) e Nunc dimitis (2.28-32). A Bíblia de Estudo de Genebra (p.1427) anota que “Paulo pessoalmente uso a música na sua própria adoração de culto (At 16.25), e tem sido, desde há muito, observado que suas cartas contêm porções de hinos cristãos primitivos (Ef 5.14; Fp 2.6-11; Cl 1.15-20; I Tm 3.16)”. 


Dito essas coisas a respeito da música cristã, minha preocupação tem sido o conteúdo doutrinário nas letras dos hinos evangélicos e cânticos de grupos que não confessam a mesma fé que confessamos. Quanto ao primeiro caso, doutrinas do Triunfalismo e da Confissão Positiva tem sido a preferência dos compositores “evangélicos”. Refrões tais como “Campeão, vencedor, Deus dá asas, faz seu vôo”, ou “Deus não rejeita oração” ou ainda “recebe a cura, recebe a unção, unção de conquista, unção de multiplicação”. Todo o leitor da Bíblia possuidor do mínimo conhecimento doutrinário sabe que esses “ensinos” cantados não se respaldam pelos ensinos de nosso Senhor Jesus Cristo ou dos apóstolos. Não podemos ignorar que o hino cristão é uma oração cantada, e por isso temos de usar palavras certas ou deve haver nele doutrinas ortodoxas. Entre esses louvores há letras que instigam a vingança fraternal, o egoísmo e individualismo, onde o que importa mesmo é que no final e a qualquer custo Deus dará vitória.


Quanto ao segundo caso, não podemos apoiar grupos sectários somente porque seus hinos são “ungidos” ou porque “os louvores são impactantes”. Sabemos que a música “mexe” com a alma humana e é capaz de levarmos a emoções diversas. Neste caso, deve ser lembrado o que certo pastor disse acertadamente que, nossas emoções também caíram no Éden, ou seja, elas podem conter equívocos (Jr 17.9). Nenhum crente possui autoridade para respaldar se determinado hino é “ungido” ou não apenas pelas suas emoções, sem levar em conta a fé ou corpo de doutrinas professadas pelo cantor ou grupo.


Alguém pode dizer: “mas Deus fala comigo quando cantam, eu sinto a presença de Deus”. Porém, Deus não se contradiz e não é Deus de confusão (I Co 14.33). Há um grupo de louvor evangélico (VOZ DA "VERDADE") que nega a doutrina da Trindade dizendo que, na verdade, o que de fato aconteceu foi a manifestação de Jesus nos tempos históricos: são os sabelianistas ou modalistas. Esse ensino é herético e gravíssimo.  O apóstolo João chama de anticristo (opositor de Cristo) os que negam a humanidade de Jesus e a distinção entre as pessoas de Jesus e do Deus-Pai (I Jo 2.22-24), e por extensão as três pessoas da trindade (Mt 28.19; 3.16,17). Quando Jesus disse “Eu e Pai somos um” não está dizendo que Ele é o próprio Deus-Pai (Jo 10.30). Da mesma forma ele não é o Espírito Santo, pois afirmou que Deus enviaria outro Consolador, o que se entende por um substituto e da mesma essência que Ele (Jo 14.16). Quando o Espírito Santo veio, após a ascensão de Cristo, Deus-Pai e Deus-Filho permaneceram no céu. Este, não ficou vazio.

O sentir (as emoções) também não pode ser critério para aceitação de certos hinos, cantores ou grupos musicais. Costumo exemplificar que os mórmons dizem que a veracidade do seu Livro pode ser atestada quando alguém lendo o Livro sentir um ardor no peito. Mas, mesmo que fosse possível alguém sentir o tal ardor, mesmo assim o Livro de Mórmon não seria verdadeiro. Pedro foi traído (e depois traiu Jesus) por sua emoção quando disse que estaria com Jesus até sua morte (Lc 22.33,34). Achava que tinha convicção suficiente ante a uma experiência inusitada. O apóstolo João disse que apenas a Palavra de Deus é a verdade, e com isso o único instrumento aferidor da verdade doutrinária (Jo 17.17). Temos que seguir o exemplo dos crentes bereanos (At 17.10,11).

Aliás, é bom que não esqueçamos que as letras de hinos evangélicos são falíveis, passíveis de erros, não possuem autoridade final, não possui inspiração plenária, e, ao contrário dessas qualidades negativas, a Bíblia os tem positivamente. Ela é infalível, inerrante, possui autoridade total e final e é plenamente inspirada por Deus. Eu também gosto de hinos, melodias, e de certa forma sou músico, mas não abro mão da ortodoxia das Escrituras Sagradas por conta da beleza estética musical.  

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