sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

QUEM MANDA NA IGREJA!

                           

Este artigo é um breve pensamento sobre os oficiais da igreja primitiva e o sistema de governo adotado pelos apóstolos

Por Gilson Barbosa

Muitos com certeza não consideram importante o estudo sobre os sistemas de governos da igreja. Os sistemas definem como a igreja deve ser governada dentro do âmbito terreno. Entretanto, à revelia dos desinteressados, se uma igreja deseja ser totalmente bíblica é necessário esposar e se enquadrar num sistema puro, bíblico e historicamente confiável.

Obviamente a forma de governo da igreja não é doutrina primária, comparado com outras de fundamentos inabaláveis, porém, se um sistema de governo não é plenamente bíblico podemos esperar consequências terríveis na esfera administrativa. Sendo assim, apesar de não ser uma doutrina central, é uma questão importante conhecer o sistema adotado pelos apóstolos na formação da igreja, e ter ou implantar o mesmo na igreja atual.

Os oficiais na igreja

Para entendermos bem os sistemas de governo da igreja, primeiramente é necessário saber e compreender como a Bíblia denominava os oficiais da igreja primitiva.

A Bíblia relata os ofícios de apóstolo, presbítero e diácono. Estes eram pessoas que tinham sobre si o reconhecimento público e desempenhava certas funções em beneficio da igreja. Dos três ofícios citados na linha anterior um estava limitado ao tempo e hoje já não existe mais: o apóstolo. Não é minha intenção discutir sobre as bases da inexistência desse ofício agora, e fica quem sabe para outra postagem. Reconhecidamente sobram os ofícios de presbítero e diácono. Podemos perceber que não há o ofício de pastor, pois se trata de função e não titulo ou ofício. É verdade que os presbíteros em certo sentido podem ser chamados de pastores, mas é simplesmente por causa da função de pastorear. A única vez que a Bíblia menciona a palavra pastor para referir-se a um oficial da igreja se encontra em Efésios 4.11: “Assim, Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”. Mas sabemos que esses pastores/mestres, na verdade eram os presbíteros. Note bem que em Atos 20.17 o apóstolo Paulo pediu para que fossem chamados os presbíteros da Igreja de Éfeso, mas no versículo 28 ele lhes diz que Deus os estabeleceu “para pastoreardes a Igreja de Deus”. Leia mais em I Pedro 5.2.

Pluralidade de presbíteros

Em segundo lugar não há na Bíblia a ideia de um único pastor dirigindo e detendo poder sobre um grupo de igrejas e consequentemente de presbíteros e diáconos. Entendo que o modelo bíblico é o da pluralidade de presbíteros. Em Atos 14.23 quando os missionários retornavam pelas cidades de Listra, Iconio e Antioquia, diz, por exemplo, que “Paulo e Barnabé lhes constituíram presbíteros em cada igreja; e, tendo orado e jejuado, eles os consagraram aos cuidados do Senhor, em quem haviam crido”, ou seja, estabeleceram um grupo de presbíteros em cada igreja que fundavam. Tito foi aconselhado a fazer o mesmo em Creta: “Para esta missão te deixei em Creta, para que pusesses em ordem o que ainda faltava e constituísses presbíteros, de acordo com minhas orientações” (Tito 1.5).

O apóstolo Tiago (1.1) escreveu sua epístola “ás doze tribos dispersas entre as nações” o que significa que era para as muitas igrejas neotestamentárias, e em 5.14 ele orienta a igreja: “Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da igreja, a fim de que orem sobre a pessoa enferma, ungindo-a com óleo em nome do Senhor” (5.14). O apóstolo Pedro também segue a mesma linha quando diz: “Suplico, portanto, aos presbíteros que há entre vós, eu que sou também presbítero com eles [...] pastoreai o rebanho de Deus que está sob o vosso cuidado” (I Pe 5.1,2).

O iminente teólogo Wayne Grudem ratifica a mesma linha da pluralidade de presbíteros em cada igreja: “Duas importantes conclusões podem ser tiradas desse panorama de dados do Novo Testamento. Primeiro, nenhum texto sugere que qualquer igreja, não importa quão pequena, tivesse um só presbítero. O padrão coerente do Novo Testamento é a pluralidade de presbíteros ‘em cada igreja’ (At 14.23) e ‘em cada cidade’ (Tt 1.5). Segundo, não vemos uma diversidade de formas de governo eclesiástico no Novo Testamento, mas um padrão único e coerente, segundo o qual toda a igreja tinha presbíteros que a dirigiam e zelavam por ela (At 20.28; Hb 13.17; I Pe 5.2,3)”. TEOLOGIA SISTEMÁTICA, p. 765.

Não quero acusar ou criticar os que defendem a figura de um único pastor com autoridade sobre um corpo de presbíteros, grupo de diáconos e membros da igreja, mas pra mim isto não é essencialmente bíblico. Certa vez Jesus censurou os discípulos quando discutiam entre si quem era o maior. Em resposta Jesus disse que “se alguém deseja ser o primeiro, será o último, e servo de todos” (Mc 10.33-37). Mais á frente, a respeito do pedido inusitado de Tiago e João, Jesus lhes respondeu: “Sabeis que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Contudo, não é assim que ocorre entre vos. Ao contrário, quem desejar tornar-se importante entre vós deverá ser servo; e quem ambicionar ser o primeiro entre vós que se disponha a ser o escravo de todos” (Mc 10.35-45).

Mesmo os discípulos que aparentemente são apontados por alguns como prediletos de Jesus (Pedro, Tiago e João), não foram instruídos a se sentirem superiores nem deter algum tipo de autoridade sobre os demais. Novamente cito Wayne Grudem que felizmente disse: “Isso pode bem refletir a sabedoria de Cristo de precaver o abuso de poder que inevitavelmente acontece quando qualquer ser humano tem excesso de poder sem o necessário controle ou supervisão por parte de outros. Assim como Jesus deixou uma pluralidade de apóstolos com a autoridade (humana) definitiva na igreja primitiva, também os apóstolos sempre estabeleceram uma pluralidade de presbíteros em cada igreja, nunca deixando só uma pessoa com a autoridade de liderança”.

Formas de governo da igreja

Feito essa introdução necessária, passemos para as formas de governo da igreja. Há três formas de governo eclesiástico estabelecido: o Episcopal, o Presbiteriano e o Congregacional. De certa forma todos eles possuem perigos inerentes do próprio ser humano, mas, buscar seguir o modelo que seja bíblico é considerar o que as escrituras dizem sobre o assunto. Não compartilho com outros estudiosos que os modelos de administração são intercambiáveis e que podem ser defendidos mutuamente. Acredito que a Bíblia esclarece e aprova apenas um modelo: o congregacional.

Episcopal

A origem da palavra episcopal na língua grega remete ao vocábulo episkopos, que significa “supervisor”, traduzido seguidamente por “bispo” ou “superintendente”. Comparado aos outros, é o sistema eclesiástico mais antigo. O líder principal revestido de autoridade é o arcebispo, tendo à sua disposição o “domínio” sobre vários bispos. Basicamente este sistema apoia seu pensamento na certeza de que os sucessores dos apóstolos (bispos) foram legalmente constituídos por Cristo, obtendo de sua liberação o controle da igreja na Terra.

Os que defendem esse sistema ou usufruem dele, alegam que se deu este desenvolvimento naturalmente no início da igreja. Acreditam estes, que após a morte do apóstolo João, naturalmente e sob sua aprovação, um bispado foi surgindo em cada igreja enquanto os apóstolos (originais) faleciam, e, pouco a pouco se tornou em grandes proporções com extremos poderes. Entre as igrejas que adotaram este sistema, a igreja Católica Romana é a mais “aguerrida defensora” e, apesar de existir vários bispos, um só é autoridade infalível, o Papa. As reivindicações e justificativas repousam na teoria de que Pedro foi o primeiro papa e que logo após a morte deste teria se iniciado uma série de sucessões papais, predominante hodiernamente. Menos fervorosos do que a igreja católica nesta reivindicação, mas, participantes do sistema episcopal estão a Igreja Anglicana, a Igreja Metodista Unida, a Igreja de Deus (pentecostais dos EUA) e a Igreja da Santidade Pentecostal (EUA). No Brasil, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus é episcopal.

Presbiteriano

No sistema presbiteriano não há a centralização da autoridade ou dos direitos em alguém, contudo, há um representante, escolhido pela igreja local, através do sistema de eleição, que figura a igreja nas atividades eclesiásticas. O representante, neste sistema, é denominado de presbítero (gr. presbuteros), e vemos sua presença, por exemplo, em Atos 11.30: “O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos (presbíteros) por mão de Barnabé e de Saulo”. As decisões básicas eclesiais, no sistema presbiteriano, são tomadas por sequenciais concílios. Os presbíteros são responsáveis pelo governo das igrejas de determinadas áreas jurisdicionais. Fazem parte do presbitério os membros que compõem um conselho, ou uma assembleia. Este presbitério deve respeito ao superior hierárquico, o pastor da igreja, que não deixa de ser um presbítero, cuja autoridade é exercita sobre os demais presbíteros das igrejas locais. Em um patamar mais elevado, e de maior autoridade eclesiástica, está a Assembléia Geral ou Supremo Concílio, o órgão máximo do sistema presbiteriano.

Congregacional

Cada igreja local, geograficamente, exerce poderes eclesiásticos, sendo que as decisões tomadas pela congregação (de crentes) são investidas de autoridade. É o sistema em que mais se executa a democracia, pois, coloca em ascendência a vontade dos “leigos”. Decisões de extrema importância são tomadas pelos membros da congregação, denotando que todo o poder emana do povo, sendo que, nenhum poder externo tem a supremacia, e as decisões não podem ser revogadas por nenhum corpo eclesiástico. A compra e venda de propriedades, a escolha e até o orçamento do pastor, por exemplo, neste sistema, é feito totalmente sob a “aprovação” dos membros congregacionais. Porém, isto não isenta uma determinada congregação de deter uma representação pastoral e até mesmo um corpo eclesiástico. Destaco, neste modo, as igrejas Batistas e Congregacionais.

O que a Bíblia diz a respeito do sistema de governo primitivo

Segundo o pastor Rosivaldo Sales entres os fatos que comprovam a biblicidade desse modelo estão: a ausência de uma hierarquia sacerdotal piramidal na igreja primitiva; as cartas apostólicas eram dirigidas para toda a comunidade e não aos líderes em particular como se houvesse diferenciação; a resolução das situações importantes não estava numa classe ordenada ou privilegiada (um clero, conselho, pastor ou sacerdote), mas na comunidade cristã (At 6.1-3; 13.1-3; 14. 21-23; 15. 22-25; I Co 5; 6.1-5; 16.3); o direito das igrejas de elegerem representantes para acompanhar o apóstolo Paulo na missão de levar as ofertas à igreja de Jerusalém; a sinergia entre a igreja reunida (os irmãos) com os presbíteros e diáconos, na direção do Espírito.

Não tenho como reprovar as escrituras e ela deixa claro que o sistema congregacional de governo é o mais provável. As características de uma igreja saudável passam pelas virtudes da comunhão, respeito, liberdade e participação e isso está mais presente numa igreja que adota o congregacionalismo. Não significa que as igrejas congregacionais sejam perfeitas, imaculadas, mas não temos como negar que nele (no sistema congregacional) o importante mesmo não é quem manda na igreja até porque o dono da igreja é Cristo, o Salvador e Senhor.

No amor de Cristo, 



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